terça-feira, 31 de março de 2020

Coronavírus: O que fazer quando não sabemos mais o que fazer?

Coronavírus: O que fazer quando não sabemos mais o que fazer?

Amigos e amigas, espero que me perdoem por mais um texto longo. Mas, quando liguei a televisão nesta manhã, ouvi tanto desencorajamento, tantas palavras negativas, tantas notícias ruins, que resolvi escrever este texto, como uma reflexão para mim, e, quem sabe, para todos nós.

Isto, porque, há cerca de 2.750 anos atrás, uma nação estava vivendo uma situação terrível de morte e insegurança. O Rei Uzias, que havia reinado em Judá por 52 anos, fazendo-o o mais longo reinado naquela terra até aquela data, havia morrido. Ele havia sido um ótimo rei, como nos indica o texto de 2 Crônicas 27.

Como a expectativa de vida naqueles dias era muito menor do que nos dias atuais, parece óbvio que a quase totalidade dos cidadãos não tinha conhecido nenhum outro rei durante sua vida. E, agora, aquele bom rei havia morrido.

O que aconteceria com a nação, será que o seu filho, Jotão, seria um rei tão bom como fora o seu pai? Um verdadeiro pânico se estabeleceu em Judá. Judá havia sido contaminada pelo vírus do medo. O que vamos fazer, quando não sabemos mais o que fazer? Esta era a pergunta na mente de todos.

Neste contexto, Deus se manifestou a Isaías, trazendo uma mensagem libertadora para os momentos de desespero. O direcionamento divino ao seu servo será melhor entendido se fizermos quatro perguntas ao texto:

1. Quem eu vejo quando a tragédia me aflige?

Quem nós vemos diante das crises e problemas? Israel: podia ver um cadáver – era a realidade – o rei havia morrido, ou podia ver o Senhor tendo tudo sobre controle – Esta é sempre uma escolha nossa e pessoal.

A nossa tendência humana é darmos mais atenção para os pregadores da desgraça, do que para os promotores da esperança.

Nesta crise do coronavírus, proliferam as notícias devastadoras, e quase não se ouvem as vozes da esperança. Até mesmo no nosso meio, há pregadores de uma falsa justiça, promovendo mensagens julgadoras, com sentenças nefastas para todos. “É um julgamento divino”, dizem muitos.” E, com isto, acrescentam ainda mais peso a desgraça de quem está morrendo, ou tem seus parentes e amigos em centros de tratamento intensivo.

É algo muito temerário querer ocupar o lugar de Deus, no departamento administrativo do céu. Os pensamentos Dele não são os nossos pensamentos, nos advertiu sabiamente o profeta. Neste departamento administrativo, o acesso é limitado ao Todo-Poderoso. No computador celestial, nenhum de nós tem acesso. A senha é inviolável.

O que nos resta, então, é o departamento de relações públicas. Nós somos os porta-vozes da bondade do Senhor. Isto podemos ser, e atos de bondade podemos fazer, como parte das expectativas divinas para cada um de nós.

No nível das relações públicas, afirmamos que Deus não é insensível ao sofrimento da humanidade. Ele não nos abandonou. Ele continua assentado no seu trono. Ele jamais perde o controle. Ele é mestre em produzir o bem, mesmo diante de quadros de morte. Como Pai amoroso, ele age como nosso protetor, a nós que ainda estamos com saúde, e como nosso confortador, para aqueles que estão passando pelo vale da sombra da morte.

2. O que eu vejo quando a tragédia me aflige?

Esta pergunta é muito importante, porque o que decidimos ver ou nos derrota e aniquila, ou nos anima e enche o nosso coração de esperança.

Eu e você podemos ver o cadáver do Rei Uzias, ou podemos ver a vida brotando no meio dos cadáveres. Ou, na linguagem do Profeta Ezequiel, podemos ver o vale dos ossos sequíssimos, ou o Espírito de Deus soprando o seu vento abençoador e trazendo vida no meio da morte e desgraça.

Isaías viu o Senhor, no seu alto e sublime trono, e as suas vestes enchiam todo o templo. Quando nós treinamos para ver as situações como Deus as vê, descobrimos que a Sua presença enche todos os espaços. Tudo é preenchido com a Sua presença.

O que você tem visto, no meio de tanta notícia triste e tanto choro trazido por este vírus tão horrível? 

Quando olhamos para a história da humanidade, descobrimos que, em momentos de tragédia, Deus tem usado sua igreja para abençoar o planeta.

Foram os cristãos que estabeleceram os leprosários na Europa, quando todos lançavam os enfermos para fora das muralhas das cidades. Foram os cristãos que fundaram inúmeros hospitais para tratar os doentes, nos momentos de calamidade; foram os cristãos que criaram as universidades europeias, para gerar um grupo de pessoas preparadas para melhor gerir a vida da sociedade; foram os cristãos, em Genebra, que criaram a primeira escola pública obrigatória para crianças de todas as classes sociais, garantindo educação para todos; foram os cristãos que, vendo as crianças nas ruas do Reino Unido, soltas e se auto-corrompendo, criaram a YMCA, o football e o basquete, para que pudessem sair das ruas e melhorassem a auto-disciplina e saúde.

Foram os sacerdotes cristãos que não abandonaram os seus rebanhos, mesmo em meio a terrível Peste Negra, morrendo aos milhares, mas gerando vida e esperança em milhões.

São os cristãos atuais que, diante da crise, juntamente com muitos outros de fé e ideologia diferentes, estão respondendo com atos de bondade, em uma prova cabal do nosso comprometimento com o nosso próximo.

3. Como você se vê diante do mal que nos aflige?

Esta é a sua e a minha opção. O profeta nos mostra isto muito claramente. Diante das notícias ruins e do pânico generalizado, sua primeira resposta foi: “Ai de mim, porque sou um homem de lábios impuros e habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Senhor.”

Esta reação de Isaías é muito comum em todos nós. Diante das tragédias ao nosso redor, tendemos a nos considerarmos incapazes de fazermos algo que possa alterar a situação. O negativismo tende a nos dominar.

Quando o negativismo nos domina, nós alteramos a visão que temos de nós mesmos. Já não nos consideramos um fator positivo para o bem dos outros, mas seres incapazes de produzir o bem. “Ai de mim, que sou impuro.”

Mudamos, também o entendimento que temos dos outros seres humanos, nivelando-os ao nosso próprio entendimento de nós mesmos: “sou impuro, e habito no meio de um povo impuro.”

Mudamos o nosso entendimento de quem Deus é. “os  meus olhos viram o Senhor.” Como o contexto das afirmações é negativo, a visão de Deus  se torna julgadora, condenatória e negativa. É quase como se o profeta estivesse dizendo: “Estamos liquidados. O Juiz divino e severo está vindo sobre nós com toda a sua força.”

No entanto, Deus decide alterar aquela visão distorcida e cruel. Um anjo sai do trono com uma brasa e toca os lábios do profeta, e diz: “Você era, meu amigo, tudo que acabou de dizer. Agora, contudo, você não é mais. Seus lábios estão purificados. Agora, você é meu agente de benção e vida para outros.

4. O que você vai fazer com aquilo que você vê?

No texto de Isaías, Deus finalmente faz ao profeta a pergunta-chave: “A quem enviarei, quem há de ir por nós?”  Este é um “por nós” maravilhoso. É um ‘por nós” da totalidade triúna divina; mas é um “por nós”, da ação conjunta de Deus e cada um de nós. Quem se unirá aos céus, para resolver esta calamidade que o vírus está trazendo ao mundo?

Isaías conclui o texto dizendo: “Eis-me aqui, envia-me a mim.”

Amigo e amiga, nós vivemos um momento no qual temos que decidir se queremos ser solução ou adição ao problema. Muitos agem como adição ao problema, semeando mais medo e desesperança. Isto é horrível.

Nós fomos chamados para sermos sal e luz. Se os nossos olhos forem luminosos, todo o nosso corpo será luminoso, disse Jesus. O que podemos fazer para ajudar o nosso próximo neste momento de incertezas e desespero?

Ontem, conversando com a pastora Roselen, de Milão, uma pessoa maravilhosa e corajosa, ela me contou de um pastor de 75 anos, na cidade de Bérgamo, onde o epicentro do terremoto do coronavírus está acontecendo. Ele contraiu a doença e foi hospitalizado. Enquanto pode, ele ia, de cama em cama dos doentes da mesma unidade hospitalar, levando a mensagem abençoadora do Evangelho, e orando pelas pessoas enfermas. Quando sua situação não permitiu mais andar pela enfermaria dos contagiados, ele falou com os médicos e enfermeiras de sua enfermaria sobre o amor de Deus. O pastor veio a falecer, e, um dos médicos que tratou dele, chorando, disse: “As palavras dele, e suas orações, não transformaram a sua situação pessoal, mas mudaram a nossa vida.”

A quem enviarei, quem há de ir por nós? Eis-me aqui, envia-me a mim.

Deus nos abençoe!

Por Pr. Elias Dantas, graduado em Bacharel em Teologia; Mestrado em Teologia, doutorado em Missiologia e Doutorado em Filosofia em Estudos Interculturais, concluída em 2006 no Seminário Teológico Fuller.


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