quinta-feira, 23 de maio de 2019

Projeto que pune quem impedir ‘manifestações de afeto’ entre gays avança no Senado

Projeto que pune quem impedir ‘manifestações de afeto’ entre gays avança no Senado

Um dia antes de o Supremo Tribunal Federal (STF) retomar o julgamento da criminalização da homofobia, avançou no Senado um projeto que prevê punições para tentativas de se proibir manifestações públicas de afeto entre homossexuais.

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou nesta quarta-feira (22) uma proposta que pretende punir quem “impedir ou restringir a manifestação razoável de afetividade de qualquer pessoa em local público ou privado aberto ao público”, com penas de um a três anos de reclusão.

O texto também prevê a punição de quem impedir o acesso ou se recusar a atender pessoas em estabelecimentos comerciais ou locais abertos ao público por causa de sua orientação sexual.

O projeto é de autoria do senador Weverton Rocha (PDT-MA), mas foi aprovado na forma de um substitutivo proposto pelo relator Alessandro Vieira (Cidadania-SE). Em seu relatório, Vieira propôs isentar de punição os templos religiosos.

Questionado se o termo “manifestação razoável de afetividade” seria subjetivo, podendo abrir margem para diferentes interpretações, Vieira respondeu que “a interpretação da lei sempre exige o bom senso”. “É para isso que a gente tem juiz, magistrado, para fazer análise disso”, disse ao G1.

Segundo o senador, o que se quis assegurar é que qualquer cidadão, casal ou pessoa, independente do sexo, tenha respeitada sua “manifestação moderada de afeto”. Ele argumenta que é preciso garantir o respeito, porém “não pode invadir um templo religioso para fazer coisas que aquela religião não aceita”.

Por se tratar de um substitutivo, o texto terá de passar por nova votação na CCJ, onde poderá sofrer novas modificações. Se aprovada pelo colegiado, a proposta seguirá para análise da Câmara dos Deputados.

A presidente da sessão, Simone Tebet (MDB-MS), afirmou que pediria ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que conversasse com o presidente do STF, Dias Toffoli, para que a Corte aguarde a análise dessa proposta pelo Congresso.

Riscos para a liberdade religiosa

Com a intenção de esvaziar as ações de criminalização da homofobia no STF, o deputado federal Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), membro da bancada evangélica no Congresso, articula a votação no plenário da Câmara de um projeto de lei que agrava a pena no caso de lesão corporal ou assassinato motivado por orientação sexual da vítima.

Em seu texto, o parlamentar não prevê a tipificação do crime de homofobia. “Coloco como agravante de pena, o que entendo ser justo. Nós, na comunidade cristã, não temos problema nenhum quanto a isso, porque a gente não quer que ninguém seja agredido por essas questões. Agora, mais do que isso, temos nossos limites na frente evangélica”, afirma Cavalcante.

O projeto elaborado por Cavalcante também não menciona o crime de injúria motivada por homofobia, com receio de ferir a liberdade de expressão e religiosa. O temor, segundo o parlamentar, é impedir, por exemplo, um pastor de pregar a relação entre pessoas do mesmo sexo como pecado.

“O nosso problema é: o que que vai ser essa injúria? A gente não quer também que agrida nem verbalmente. Mas a subjetividade da fala é muito ampla e o juiz pode entender que a fala do pastor ou na igreja é ofensa. Esse é o nosso receio”, explica.


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