Começou no Twitter em junho/2020, espalhando-se rapidamente para todas as plataformas digitais, viralizando nas redes sociais. O meme “Enfim, a hipocrisia” segue bombando nos mais diferentes grupos. Basicamente, o meme tira onda com quem fala uma coisa e faz outra, sempre terminando com a frase emblemática: enfim, a hipocrisia.
Exemplos: “Diz que não suporta a vida, mas não vive sem ela. Enfim, a hipocrisia”, “Não pode celular na aula, mas pode aula no celular. Enfim, a hipocrisia”, “Vive me elogiando por eu gostar de ler, mas nunca me dá um livro de presente. Enfim, a hipocrisia”, “Se você correr a mãe vai te bater, não corri, e mesmo assim apanhei. Enfim, a hipocrisia”. E a lista segue, é só procurar que vai encontrar os mais variados temas.
Alguns exemplos que encontrei entre o povo da fé que, conectados e antenados que muitos são, não poderiam faltar: “Sempre chega atrasado em todas as programações da igreja, mas quando assume um cargo exige pontualidade dos demais. Enfim, a hipocrisia”, “Prega lindamente sobre a importância da unidade, mas não tem comunhão com a própria família. Enfim, a hipocrisia”, “Exige atenção e silêncio de todos quando prega, mas quando é ouvinte vive pelos corredores e átrios da igreja dando altas gargalhadas. Enfim, a hipocrisia.”
Hipocrisia, você sabe, é uma palavra que vem do grego, significa ator, aquele que domina a arte de interpretar. Popularmente se tornou sinônimo de falsidade, mentira, enganação. E se tornou desde a época de Jesus! Hipócritas é o termo que Jesus duramente usava para se referir a fariseus, escribas, herodianos, doutores da lei, mentirosos.
Uma das passagens mais famosas encontra-se no evangelho de Marcos 12:13-17, quando fariseus e herodianos, depois de descaradamente carregarem nas lisonjas e babação de ovo referentes a pessoa de Jesus, lançam a pergunta-armadilha: “É lícito pagar impostos?”, ao que Jesus sabiamente responde dando um nó na pergunta cheia de ciladas: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.”
Neste trecho do evangelho, antes de responder, o texto nos informa que Jesus sabia da hipocrisia que residia no coração deles e, para piorar, se estudarmos os dois grupos, fariseus e herodianos, vamos ver que tinham práticas e crenças bem antagônicas, porém para destruir Jesus se uniram com todas as armas do cinismo, da aparente inocência, da ironia. Enfim, as armas da hipocrisia.
Lutero, sobre a clássica resposta de Jesus: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, conclui que Jesus com esta resposta afirmou claramente a existência de dois reinos, o secular e o divino. E que nós, como cidadãos daqui devemos respeitar as regras seculares, orar por nossas autoridades e não entrarmos na pilha e nos joguinhos de polarizações inúteis e destruidoras. Por outro lado, como cidadãos do reino de Deus, devemos dar a Ele aquilo que somente a Ele pertence, nossa alma, coração e vida.
Vamos viver coerentemente com aquilo que pregamos. Vamos honrar com atitudes a fé que professamos. Saiba que o mundo, sempre que errarmos, não perderá a mínima oportunidade de dirigir a nós a provocativa frase: “Enfim, a hipocrisia”.
Mas saiba também que este mesmo mundo, sempre que insistentemente lutarmos e nos esforçarmos para vivermos dignamente, testemunhando a fé que uma vez foi entregue aos santos, este mesmo mundo reconhecerá em nossas atitudes, razões mais que suficientes para pronunciarem outros tipos de frases: “Enfim, um cristão verdadeiro”, “Enfim, alguém que faz o que fala”, “Enfim, coerência entre ação e pregação.”
Foi para os religiosos hipócritas de sua época que Jesus dirigiu a pesada comparação: “vocês são como sepulcros caiados, por fora são perfeitinhos, mas no interior estão podres”. Vamos pagar o preço de sermos pessoas de verdade, na verdade e pela verdade. Em Cristo, cada um de nós, recebe a graça e o poder para nos tornarmos a melhor versão de nós mesmos. Enfim, isso é transformação que só Ele, o Espírito Santo em nós, pode dar. Paz!
Edmilson Ferreira Mendes é teólogo. Atua profissionalmente há mais de 20 anos na área de Propaganda e Marketing. Voluntariamente, exerce o pastorado há mais de dez anos. Além de conferencista e preletor em vários eventos, também é escritor, autor de quatro livros: "Adolescência Virtual", "Por que esta geração não acorda?", "Caminhos" e "Aliança".
* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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