“Restaura, Senhor, a nossa sorte, como as torrentes do Neguebe” (Sl 126.4)
O Salmo 126 é um salmo pós-cativeiro. O salmista olha para o passado com gratidão ao relembrar a libertação realizada por Deus (v. 1-3), olha para o presente, com oração, reconhecendo a necessidade de restauração (v. 4), e olha para o futuro, com esperança, convicto de que toda semeadura, ainda que lágrimas, desembocará em colheita feliz e abundante (v. 5,6).
Destacamos aqui, apenas a perspectiva presentana, onde o clamor por restauração é um apelo veemente de alguém, que olha para o melhor do passado como medida mínima do que fará no presente e no futuro. Cinco lições podem ser derivadas do versículo em apreço:
Em primeiro lugar, as vitórias do passado não são garantias de sucesso no presente. Ao olhar para o passado, o salmista viu o livramento de Deus. Isso foi algo maior que o povo podia imaginar. Isso trouxe alegria a eles e impacto entre as nações. Essa libertação do cativeiro produziu neles profundo reconhecimento e efusiva alegria. Porém, agora, estão áridos como um deserto. Retornaram para a terra prometida, mas não estavam desfrutando de uma vida maiúscula. Estavam em Jerusalém, mas não estavam contemplando a face do Rei. As ataduras da servidão foram quebradas, mas não estavam desfrutando de vida abundante. Isso prova que as vitórias do passado não são garantias de êxito no presente. Todo o dia é dia de andarmos com Deus.
Em segundo lugar, a sequidão do presente não deve ser motivo de desânimo, mas de clamor a Deus. O Salmista orou: “Restaura, Senhor, a nossa sorte…”. Enfrentamos a carranca da crise não com murmuração, mas com clamor a Deus. Se Deus se apiedar de nós, nosso deserto pode florescer. Se ele se agradar de nós, nossos vales áridos se encherão de trigo e nossos desertos secos transbordarão de vinho. A crise deixa ser nossa sentença de morte, para ser o território de nossa busca pela face do Eterno.
Em terceiro lugar, a restauração não é obra humana, mas divina. O salmista pediu: “Restaura, Senhor, a nossa sorte…”. Não podemos restaurar a nós mesmos nem perdoar a nós mesmos. Não podemos terapeutizar nossas próprias feridas nem reavivarmos nosso próprio coração. É Deus quem nos restaura. Dele procede o nosso perdão e a nossa cura. Só ele pode nos reavivar, iluminando nossa mente e aquecendo nosso coração.
Em quarto lugar, a restauração não é fruto das mãos que obram, mas dos joelhos que se dobram. O salmista clamou: “Restaura, Senhor, a nossa sorte…”. A oração é a arma mais poderosa dos soldados de Cristo. A oração une a fraqueza humana à onipotência divina. Ela aliança o altar da terra com o trono do céu. A oração move o braço que move o mundo. Pela oração Deus nos restaura. Pela oração o fraco é fortalecido, o caído é levantado e a igreja apática é reavivada.
Em quinto lugar, a restauração não é uma conquista do homem, mas um milagre da graça de Deus. “Restaura, Senhor, a nossa sorte como as torrentes do Neguebe”. O Neguebe é o maior deserto da Judeia. Esse deserto é formado de montanhas rochosas e vales profundos. É um território inóspito e perigoso, que experimenta um fenômeno extraordinário. Ocasionalmente, correntes volumosas de água, descem dos morros alcantilados, rasgando as entranhas do deserto e por onde esses rios de vida passam, tudo floresce e frutifica. O salmista está orando e pedindo que Deus faça o mesmo em sua vida. Ele está clamando pelo mesmo milagre de restauração na história de Israel. Oh, que Deus nos restaure, nos reavive e transforme nossos desertos em oásis!
Por Hernandes Dias Lopes - pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, escritor, membro da Academia Evangélica de Letras do Brasil e diretor executivo da Editora Luz para o Caminho.
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