Após pressão da bancada evangélica, o governo do Rio de Janeiro retirou da Assembleia Legislativa o decreto de autoria do executivo cujo objetivo é regulamentar uma lei estadual que prevê punições a quem discriminar “pessoas por preconceito de sexo, identidade de gênero ou orientação sexual”.
De acordo com o grupo evangélico, caso o projeto se tornasse uma lei estadual poderia resvalar na liberdade de pregação da Bíblia. O governo carioca retirou o decreto, que deve ser apresentado com uma nova configuração nos próximos dias.
Um dos parlamentares a se manifestar contra foi o deputado carioca Sóstenes Cavalcante. “Queremos que esse decreto seja sustado na íntegra. Caso contrário, o governador pode saber que viverá com os evangélicos e católicos um inferno pós-carnaval”, afirmou Sóstenes.
Pauta de Costumes
O tema, que deve ser tratado na esferal nacional, já é pauta do Congresso e do judiciário. Em 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) começou a julgar a chamada “pauta de costumes”, ainda sem conclusão. Na agenda de 2020, a corte deu prioridade aos temas penais e tributários, deixando de fora os relacionados a costumes, que passam por questões vinculadas à religião.
O principal exemplo é o recurso que discute a descriminalização do porte de drogas para consumo pessoal — assunto que estava previsto para 2019, mas foi adiado indefinidamente.
O “pacote” no Supremo inclui ainda a criminalização da homofobia, que começou a discutir o tema em antecipação à pauta no Congresso Nacional, onde a proposta sofre resistência da bancada evangélica.
O grupo, composto por pastores de diferentes denominações, afirma que a medida é uma forma de proibir a pregação contra a homossexualidade em igrejas.
Equívoco e novo decreto
De acordo com o governador, o decreto foi publicado sem a sua autorização. “Eu havia feito correções no decreto que, por equívoco, não foram publicadas. No decreto nós somente vamos aplicar sanções após o julgamento da secretaria de Direitos Humanos conforme determina o artigo terceiro da Constituição, que fala na proibição da discriminação de sexo, raça, cor, etnia, opinião política, opção religiosa. Somente nesses casos. Vamos fazer a retificação. O decreto foi publicado com equívoco, foi publicado sem minha autorização e será republicado na semana que vem”, disse.
Segundo informa O Globo, o governo prometeu aos deputados que deve publicar um novo decreto com diversas mudanças.
O decreto regulamentou a Lei 7.041, de 2015, e “estabelece penalidades administrativas aos estabelecimentos e agentes públicos ou privados que discriminam pessoas por preconceito de sexo, identidade de gênero ou orientação sexual”.
Segundo o texto do decreto, podem ser punidos “estabelecimento público, comercial e industrial, entidades, representações, associações, fundações, sociedades civis ou de prestação de serviços”.
A punição pode ser advertência, multa de R$ 19 mil a R$ 78,5 mil, suspensão ou até a cassação da inscrição estadual — exigência para o funcionamento.
A polêmica em torno do projeto aconteceu apesar de a lei deixar expresso que a norma não se aplica “às instituições religiosas”.
O texto ainda descreve diferentes tipos de discriminação, como negar, impedir ou dificultar o acesso a espaços como hospitais, hotéis, transporte público, entre outros.
Em 2000, o Estado do Rio aprovou lei similar, mas que foi derrubada em 2013. Opositores alegaram que ela tinha “vício de iniciativa”.
Governo do Rio revoga decreto que poderia restringir pregações sobre homossexualidade publicado primeiro em https://guiame.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário